terça-feira, fevereiro 27, 2007
SOU UM LIVRO FECHADO
NA PRATELEIRA PARTIDA

PONTE PÊNSIL DO TEU UNIVERSO

QUERO RASGAR DAS VEIAS UM VERSO
CAPAZ DE FAZER DA DOR
A LOMBADA
ARQUEADA DA VIDA

NOS MEUS OLHOS
PODERÁS VER A CAPA DURA
VERDE E DESGASTADA

NA CONTRA CAPA
LERÁS AS MINHAS FUGAS
COMO QUEM LÊ
AS EXPRESSÕES DAS RUGAS

INCITO TE
A LER ME POR DENTRO

EXISTEM CAPÍTULOS TEUS
QUE CAPITULEI
NÃO SEI SE PERDOEI
NUNCA ESQUECI

RASGA FOLHAS DE MIM
QUEIMA AS PALAVRAS QUE ESCREVI
 
posted by lucas nihil at 1:39 AM |
quarta-feira, fevereiro 21, 2007
Enfiada
no seu vestido em tom pastel
Maria desce a calçada
apressada
em direcção ao cais.
Caminha depressa.
Um sabor da saliva, atravessa-lhe o pensamento.
Quase corre, como se fosse amarrada ao vento
Por um cordel
Saliva do beijo que ela espera encontrar
nos lábios de mel
do seu amante Joel.

Maria no doce mundo da ilusão
tomou a decisão.
Atou a consciência a um cordel.
Enfiou-se no seu vestido pastel,
pintou sonhos a pincel,
e trocou por um dia,
o João pelo Joel.

O João regressa a casa
mais cedo que o habitual.
Facto pouco normal.
Sem que a Maria dê por nada.
E por nada dar
nada Maria podia.
Enquanto na calçada, esta
nessa mesma hora, para casa corria, corria, corria.

Telefone desligado,
Não deixou bilhete,
Não deixou recado,
Apenas deixou o João preocupado.

João recebe em casa a Maria
e questiona a mulher.
Afinal queria saber
o que lhe acontecera nesse dia.
E Maria deu-lhe a resposta,
Que ele tanto ansiava,
Que ele ouvir tanto queria.

Respondeu-lhe Maria:
Atrasei me como podes ver,
que outra coisa poderia ser?
Desculpa, meu querido
Marido,
Ou por onde julgas tu que andaria,
enfiada neste miserável vestido em tom pastel?
Se assunto importante fosse,
prometo que te diria,
Mas o meu telefone estava sem bateria.
 
posted by lucas nihil at 2:39 AM |
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
Nos teus olhos, em chama, vejo arder
a fogueira insensível da fadiga.
Desprendem-se e ao teu colo vão morrer
pedaços e faúlhas de uma vida.

Só resistem, fogachos de outros risos
em teu peito, escondidos sem alento.
As lágrimas, são cinzas de sorrisos
que soltas, bailam, dançam com o vento.

Dilacera-te o peito e o coração
se teu segredo entrar em combustão
e implodir a fachada do teu rosto.

Por desgosto, ateaste fogo posto,
e arquitectaste, a tese de acidente.
Mas amor decadente, nunca mente.







Descobri na “gaveta” um soneto escrito em Julho de 2005.

Originalmente a ideia era ficcionar uma história sobre duas almas perdidas nos trilhos da rotina. Uma das almas veria no rosto da outra a decepcionante fadiga, e de forma impotente, assistiria à decadência do amor sem a possibilidade de imputar culpas ou de se sentir culpado/a.


Agora que reli, eu tenho uma outra visão, imagino uma alma solitária, que fala consigo próprio/a ao espelho, fazendo confissões de desencanto, sem coragem para dizer à sua alma metade, metade do que lhe vai na alma.
 
posted by lucas nihil at 4:39 AM |