E o poeta sofria, ali no meio da praça, redondel alicerçado em sílabas amargas e palavras repudiadas.
A turba, entusiasmada gritava, Olé.
As redondilhas, tanto as maiores como a pequenas, tinham sede de vingança, e em cada ferro que o poeta recebia, furiosas e loucas de contentamento, em júbilo gritavam, Olé.
E o poeta prostrado de joelhos, no meio da praça, a sangrar palavras em desalinho, enfrentava o cavalo louco que sobre ele investia, e um cavaleiro, a quem lhe chamam, a Vida! Coisa ou facto, ou personagem, que o poeta diz não conhecer, e por tal condenaram-no a tanto.
No estrato mais alto do redondel, os decassílabos, com ar altivo, primos direitos dos sonetos, família conceituada, com enormes vestes de sílabas fonéticas, perdiam por vezes a postura, e ali ao ver mais um ferro comprido, no poeta espetado, não continham o brado e gritavam, Olé.
A vulgar multidão de versos soltos, vulgares plebeus, tão negligenciados, vestidos de branco, aglomeravam-se para ver o poeta morrer, entristecidas por cada Olé em jubilo gritado.
O poeta não os tinha escravizado, nem espartilhado, deixando existir em cada uma delas a sílabas métricas que melhor se adequavam ao sabor da pena
Deu-lhes a liberdade, podiam constituir família, com ritmo, som, e serem livres de voar sobre as ondas do mar que navegam debaixo das pálpebras da poesia branca.
E a vida?
A vida sobre o poeta cavalgava, furiosa, por em certas alturas o poeta não a ter enaltecido, e por outras ter pedido a morte como castigo.