sexta-feira, julho 28, 2006
hoje

sou um cais de silêncio
onde a minha alma se entrega

onde à flor da pele flutuam
navios de sepultadas memorias
desaguam
em águas passadas de amargura

nos meus olhos navegam
destroços de dias magoados

hoje sou um náufrago
onde a minha vontade congrega
a opressão do silêncio
morada
onde minha alma se entrega



 
posted by lucas nihil at 3:43 AM |
segunda-feira, julho 24, 2006

E o poeta sofria, ali no meio da praça, redondel alicerçado em sílabas amargas e palavras repudiadas.

A turba, entusiasmada gritava, Olé.

As redondilhas, tanto as maiores como a pequenas, tinham sede de vingança, e em cada ferro que o poeta recebia, furiosas e loucas de contentamento, em júbilo gritavam, Olé.

E o poeta prostrado de joelhos, no meio da praça, a sangrar palavras em desalinho, enfrentava o cavalo louco que sobre ele investia, e um cavaleiro, a quem lhe chamam, a Vida! Coisa ou facto, ou personagem, que o poeta diz não conhecer, e por tal condenaram-no a tanto.

No estrato mais alto do redondel, os decassílabos, com ar altivo, primos direitos dos sonetos, família conceituada, com enormes vestes de sílabas fonéticas, perdiam por vezes a postura, e ali ao ver mais um ferro comprido, no poeta espetado, não continham o brado e gritavam, Olé.

A vulgar multidão de versos soltos, vulgares plebeus, tão negligenciados, vestidos de branco, aglomeravam-se para ver o poeta morrer, entristecidas por cada Olé em jubilo gritado.

O poeta não os tinha escravizado, nem espartilhado, deixando existir em cada uma delas a sílabas métricas que melhor se adequavam ao sabor da pena

Deu-lhes a liberdade, podiam constituir família, com ritmo, som, e serem livres de voar sobre as ondas do mar que navegam debaixo das pálpebras da poesia branca.

E a vida?

A vida sobre o poeta cavalgava, furiosa, por em certas alturas o poeta não a ter enaltecido, e por outras ter pedido a morte como castigo.

 
posted by lucas nihil at 1:18 AM |
segunda-feira, julho 10, 2006

Sobre esta terra agreste

rasgo o ar

rasgo o céu

já só há

o teu

o meu.

nosso destino?

Sobre esta árida terra

nas suas entranhas

ecoam

os meus passos errantes

Vivo onde

as pedras não tem idade.

Despedaçasse eu

a minha alma

contra estes rochedos

Esfarrapasse eu

o corpo

em busca de teus segredos

Rasgasse eu a carne

para expurgar

os meus medos

Sobre esta terra agreste

 
posted by lucas nihil at 3:33 AM |