segunda-feira, junho 25, 2007

Sabes João, foi essa forma voluntária de pensar que te trouxe o desassossego.

Os teus passos caminham na direcção oposta da minha forma de sentir e no entanto culpas o vento que me veio soprar ao meu ouvido as fábulas de encantar.

Noutros tempos, foste tu a brisa mansinha que veio ao pé de mim para me abraçar e confortar o meu corpo distante. Nessa altura rias-te do meu ar pedante que mais não era o sopro da minha defesa.

Ontem rias-te por ser sempre tão vaidosa e Hoje sou muito triste por dentro, também muito teimosa.

Mas eram os sonhos que me faziam caminhar, fugia de ti para me puderes alcançar.

Dizes que a tempestade há-de acalmar? Que o vento na minha alma melhores dias irá soprar?

João, vivo no mar de solidão, de olhos vendados no vendaval da minha triste existência. É miserável condição viver neste mar de confusão. Haverá mal, João, de por vezes eu querer um colo tenro, como quando era pequenina, quando tinha o colo da minha mãe.

Tenho tudo, João, vestidos, jóias, colares, e uma terrina de cristal. Também tenho um coração paupérrimo sem pulso, outrora, extraordinariamente rico. Os batimentos do meu coração foram definhando, enquanto por TI ansiosamente aguardava. Nunca apareceste João. Apenas para comer, dormir, e dizer-me bom dia.

Não foi o sopro do vento nem os sonhos que me desumanizaram. Por entre as palavras que não me definem, nem jus fazem à minha vontade de querer ser melhor, eu tento todos os dias ser melhor.

Que queres tu de mim, se melhores ventos eu não te sei dar, e já agora, melhores marés o teu mar merecerá?

Eu que de tudo faço para agradar, que tudo tiro de mim para te dar, que tudo arrisco para não ter por ti de arriscar, levo longe demais o meu esforço e acabo sempre por cair no fosso que me cavas com palavras duras, obstinadas e vingativas. Palavras que ferem e são autênticas lanças que espetam os meus olhos, e sangro o meu corpo ao vento frio.

Aquele vento que se sente ao domingo de manhã, quando mais cedo acordamos para ir cheirar a terra, que ainda está orvalhada e molhada.

Um último adeus impera nas minhas palavras, um último destino fica nesta serena terra.

O sangue que vou derramar, não é por ti João, é por mim, mesmo não sabendo se vou para um melhor lugar.

Deus te guarde e a mim me acompanhe. Sempre tua até que a morte nos separe.

Maria Villas-boas.

 
posted by lucas nihil at 6:48 PM |