quinta-feira, novembro 30, 2006

I

Na dobra do teu joelho

Vejo o que sobra do meu espelho.

Na ampulheta do medo

Ou na silhueta do teu segredo

Fica a curva do meu novelo.

Na turba do teu cabelo

Escorre o grão de areia

Que morre na maré-cheia



E no rio braço de mar

ao frio e ao Deus-dará

Quem me salvará?

É um passo

Do espaço, do meu lugar

Ao escasso raio de luar,

Onde só

Sobra a luz do meu pensar


Não é cruz que ando a carregar,

Mas sim o fio do novelo

Que daqui


[ Quem diz de aqui

diz até ali]

vai do teu cabelo

À dobra do

Eu joelho


II


Não vou iludir o meu sofrer

Ou mentir por teu bel-prazer

Talvez sorrir por desistir

Porque sem partir já fui antes de ir


Sou o delírio dos esquecidos

O martírio dos preteridos

Nas garras da aflição

Nas amarras da condição

Sou a triste figura da poesia

Crio o rio frio dogma da alergia


E se o pé foge do chão?

E se a fé escolhe a razão?

Perdido vou ficar

Esquecido a navegar!


Alheio à minha condição

Em cheio inspiro sem pulmão

Para aguentar este remar

Para tentar vivo chegar

Não é longe o lugar


[Quem diz lugar diz ali

e pode bem dizer aqui]

à luz do teu cabelo

na dobra do meu joelho


III


E se sem querer

Eu quiser querer

Partir para descobrir

Um outro qualquer novelo,

Noutro qualquer fio.

E se noutro qualquer cabelo

Se me prender o olhar?


Frio rio

braço de mar


Existe o Frio de Roma a pavio,

E navegar sem parar

É correr para não morrer


Neste momento

Sem alento

Tudo pode acontecer aqui


[ Quem diz aqui

muito bem pode dizer ali]

na distancia que vai

do meu cabelo

À dobra do teu joelho



 
posted by lucas nihil at 5:07 AM |